quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Na hora difícil do hospital, a escolinha faz esquecer a dor.




Com 20 classes na Capital e 13 no Interior, as classes hospitalares asseguram atendimento educacional ao aluno internado

Um período prolongado de internação em hospital não precisa ser uma ameaça de perder o ano letivo para crianças e adolescentes matriculados na Educação Básica. Mantendo 33 classes hospitalares, sendo 20 na Capital e 13 em cidades do Interior, a Secretaria de Estado da Educação assegura o atendimento educacional em sete hospitais da rede pública de São Paulo e em mais sete no Interior, com base na Lei Estadual 10685, de 30 de novembro de 2000.

O gesso que imobiliza, a recuperação da cirurgia e até os casos mais sérios de pacientes que precisam de quimioterapia são algumas das situações comuns nessas classes, chamadas pelos alunos de escolinha. O atendimento é dado por professoras vinculadas a uma escola estadual. Os pacientes que podem se levantar recebem os professores na enfermaria.

Embora a lei seja do ano 2000, as classes hospitalares funcionam há muito mais tempo em São Paulo, com uma estimativa de que existam desde a década de 1930, segundo dados do Cape – Centro de Apoio Pedagógico Especializado, que oferece suporte ao processo de inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais na rede estadual de ensino. Para essas classes existirem, elas precisam se vincular a uma escola pública para que o professor seja designado, depois de uma avaliação que considera sua habilidade para lidar com esse público especial.

Em São Paulo, as classes hospitalares funcionam nos seguintes hospitais:

Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – são quatro classes, vinculadas à Escola Estadual Arthur Guimarães;

Hospital Darcy Vargas – oito classes vinculadas à Escola Estadual Adolfo Trípoli;

Hospital do Servidor Público Estadual – duas classes ligadas à Escola Estadual César Martinez;

Hospital de Clínicas de São Paulo – (com duas classes) e Hospital Emílio Ribas (com três classes), que mantêm vínculo com a Escola Estadual Vítor Oliva;

Hospital AC Camargo – duas classes da Escola Estadual Presidente Roosevelt;

Hospital Cândido Fontoura – uma classe pertencente à Escola Estadual Antônio Queiroz Telles.

Nas cidades do Interior

Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto – As primeiras duas classes foram criadas em 1997, vinculadas à Escola Estadual Dr. Aymar Baptista Prado, ampliando mais uma em 2002, até chegar à quarta classe, em agosto de 2005. São quatro professoras habilitadas em Educação Especial atendendo crianças nos leitos das enfermarias, quando estão impedidas de se locomover, ou nas três salas destinadas pelo hospital, que contam com recursos pedagógicos diversos.

Os pacientes, na faixa etária de 06 a 14 anos, são alunos do Ensino Fundamental e vêm de toda parte do Brasil, mas são atendidos também alunos com idade inferior ao estabelecido ou aqueles matriculados no Ensino Médio. No caso de internação de uma criança não matriculada, a matrícula é feita imediatamente pela escola vinculadora. Ao receberem alta, as crianças levam consigo um relatório referente ao seu rendimento, para ser apresentado à escola de origem.

As quatro professoras da EE Aymar Baptista Prado – Maria Aparecida Fava Magalini, Sandra Helena Vicente de Carvalho, Rejane Campos e Gisele Gomes Negrão Brancalion – atendem hoje cerca de 89 alunos, segundo informa a diretora Neide Lorençato Medeiros. Um dado que confirma o bom trabalho realizado pelo Projeto Classe Hospitalar é a sua classificação no Programa Gestão Pública e Cidadania 2003, das Fundações Ford e Getúlio Vargas, pelo qual recebeu o prêmio de R$ 6 mil. O mesmo projeto foi selecionado, entre outros 700 do mundo inteiro, como Iniciativa de Boa Prática (Good Practice) pela agência Un-Habitat, da Organização das Nações Unidas.

Hospital Amaral Carvalho – A primeira classe hospitalar vinculada à Escola Estadual Prof. Dr. Benedicto Montenegro, na cidade de Jaú, foi criada em 2003. A crescente demanda de crianças em tratamento oncológico, tanto internadas quanto ambulatoriais, levou à instalação de mais uma classe em 2005. Hoje, são cerca de 40 pacientes-alunos, com idades variando entre 7 e 14 anos, vindos de várias cidades do Estado de São Paulo e também de outras regiões, como Minas Gerais, Amazonas, Santa Catarina e Ceará.

As professoras Lúcia Helena Ormelese de Barros e Ana Cláudia Volpato contam com o apoio da equipe médica, que as mantém informadas sobre o período de afastamento da criança. Isso facilita um planejamento educacional adequado quanto aos conteúdos curriculares e avaliações que serão feitas durante esse tempo, para que a criança não perca o ano letivo.

Centro de Atenção Integral à Saúde (CAIS) Clemente Ferreira – Desde fevereiro de 2004, cerca de 60 crianças e adolescentes da cidade de Lins, portadoras de deficiência mental, são atendidos no CAIS Clemente Ferreira, que mantém duas classes vinculadas à Escola Estadual João Pedro de Carvalho Neto, orientadas pelas professoras Neide Francisca Chagas Granjeiro e Fátima Campaner dos Santos Oliveira.

Com características próprias, essas classes atendem a uma clientela específica, de zero a 17 anos, com pacientes do Estado de São Paulo e que, devido ao quadro que apresentam, residem no hospital.

Hospital de Clínicas – Unesp de Botucatu – Todas as crianças internadas na enfermaria da Pediatria da Unesp, com idade entre 7 e 14 anos, são atendidas na classe instalada em setembro de 2005. Quer estejam no leito ou no isolamento, a professora Neudeni Sanine Alves, da Escola Estadual Prof. Américo Virgínio dos Santos, trabalha o calendário escolar segundo o que está sendo dado em sala de aula na escola a que pertencem os alunos.

Diariamente, são atendidas cerca de 12 crianças, que podem ter menos de 7 anos e até 16 anos (idade máxima para internação na Pediatria).

Os pacientes contam com uma sala equipada, livros didáticos de todas as séries e livros de leitura. Essa preocupação em dar o melhor atendimento tem trazido resultados muito positivos, como relata a professora Neudeni. “Um aluno da cidade de Itaí, que passou por um transplante de rim é um caso interessante: ao voltar para a escola de origem, a sua professora disse que ele estava aprovado e com a matéria assimilada”.

Fundação Pio XII – Hospital do Câncer de Barretos – Cerca de 280 crianças, com idades que variam até 25 anos, passam pela classe hospitalar da Fundação Pio XII, vinculada à Escola Estadual Benedito Pereira Cardoso, na cidade de Barretos. Aberta em maio deste ano, a classe é formada por pacientes da Pediatria Oncológica, que desenvolvem atividades de informática, artes plásticas e artesanato (fuxico, decoupage, cartões de Natal), além de outras complementares, utilizando vídeos e DVDs. As professoras Maria Júlia da Costa Valle e Lílian Cristina Calixto fazem também um trabalho de envolvimento com as mães dos alunos, orientando nos trabalhos de artesanato e leitura.

Hospital Materno Infantil de Marília – Vinculada à Escola Estadual Profa. Carlota de Negreiros Rocha, a classe hospitalar que funciona no Materno Infantil de Marília desde o ano passado (durante anos a classe estava dentro do Hospital de Clínicas da cidade) atende de 15 a 25 alunos diariamente, com idades variando entre três e 14 anos, internados para tratamento por período prolongado ou não. Além de dar continuidade (ou início) aos estudos regulares, estar na escolinha ajuda a diminuir os traumas psicológicos decorrentes da internação e dos tratamentos a que são submetidos.

Mesmo não comparecendo às aulas nas suas escolas de origem, as crianças internadas têm atividades pedagógicas de acordo com o que elas já vinham aprendendo. A professora Ana Helena Zanco trabalha com diversas disciplinas e também com atividades de recreação e integração, usando inclusive o computador, instalado na sala onde funciona a classe hospitalar. Entre os projetos colocados em prática estão o da biblioteca móvel, o de humanização e o de datas comemorativas, que inclui até a Semana da Criança Dodói.

Vera Souza Dantas

Classes hospitalares




A Secretaria de Educação Especial define como classe hospitalar o atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental.
No INCA, a Classe Hospitalar tem como objetivo proporcionar o atendimento

pedagógico à crianças e adolescentes portadores de neoplasia, em tratamento quimioterápico ambulatorial e assegurar a manutenção dos vínculos escolares, devolvendo a criança para sua escola de origem, com a certeza de que ela poderá se reintegrar ao currículo e aos colegas, sem prejuízo devido ao afastamento temporário.
As atividades escolares são desenvolvidas diariamente por duas professoras, que, inicialmente, procuram descobrir as áreas de interesse do aluno para viabilizar sua expressão, possíveis dúvidas acadêmicas e a aquisição do vínculo, fator primordial para o aprendizado. A partir desse contato, são planejadas atividades que possibilitem a criança superar suas dificuldades e apropriar-se de novas habilidades e competências. Nas situações em que o paciente estiver inserido numa escola regular, é solicitado aos responsáveis que tragam para o hospital todo o material escolar da criança a fim de que seja garantida a continuidade do currículo desenvolvido pela escola de origem.
Desde a sua implantação no ano letivo de 2000, quando foi assinado o convênio entre o hospital e a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, a Classe Hospitalar já matriculou cerca de 450 crianças. O trabalho foi inicialmente oferecido aos pacientes da Enfermaria de Oncologia Pediátrica, Hematologia Pediátrica e do Ambulatório de Quimioterapia Infantil, posteriormente foi ampliado, e atualmente beneficia crianças e adolescentes submetidos a transplante de medula óssea.
A atividade escolar no hospital contribui para a diminuição do estresse causado pelas sucessivas internações, proporciona integração entre os profissionais e permite que o paciente sinta-se produtivo no seu papel de aprendiz. Isto favorece a construção do conhecimento e contribui para a promoção da saúde.
O trabalho realizado pela Classe Hospitalar constitui parte integrante do tratamento oncológico e está de acordo com a Resolução n.º 2 do Conselho Nacional de Educação, de 11 de fevereiro de 2001, que em seu Art. 13 determina: "Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio.



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Atendimento multidisciplinar

Partindo da premissa de que o atendimento hospitalar não se realize somente no âmbito físico e sim multifatorial, as ações da pedagogia se efetuam sob a ótica de que mesmo passando por uma internação, a criança e o adolescente não precisam ter o seu processo de escolarização prejudicado.
Vivencia-se em uma unidade hospitalar uma realidade onde o escolar que passa por uma hospitalização, apresenta por vezes queixas relacionadas a freqüência, conteúdos, evasão, repetência e retorno à escola pós-alta. A atenção pedagógica nestas situações requer um atendimento específico e direcionado para contribuir com o tratamento e abreviar a permanência hospitalar. Através de atendimento diário com a equipe de saúde da unidade, faz-se um acompanhamento deste paciente criando um vínculo que favorecerá o contexto da internação. Posteriormente, envolve-se a escola e a família, procurando suprir as dificuldades e ansiedades quanto a escolarização. O envolvimento de tais seguimentos incrementa consideravelmente o atendimento psicopedagógico. O afastamento, por parte do internado, de sua família, escola e amigos por vezes altera sua auto-estima e provoca reações que irão de alguma forma modificar a trajetória de vida deste paciente. Cabe aqui a intervenção psicopedagógica, que irá auxiliar este paciente no momento de ressignificação de seus valores e desejos interrompidos pela internação.

Saiba um pouco mais sobre a Leucemia


TRATAMENTO DA DOENÇA
Existem muitas formas de tratar a leucemia, entre elas:
Quimioterapia
Tratamento por substâncias químicas que afetam o funcionamento celular atacando as células doentes. A quimioterapia pode causar:

1. Perda de cabelo;
2. Diarréia;
3. Vômitos e enjôo;
4. Aftas e feridinhas na boca.


Radioterapia


Tratamento feito com o uso de raios

por máquinasparecidas com a de raio X

que é capaz de destruir células tumorais.


Terapia- alvo

É o tratamento feito com medicamentos que vão atacar diretamente as células que alimentam a doença, é tido como um míssil teleguiado, que não afeta as outras células que não estão doentes.


Transplante de medula óssea

É o tratamento mais indicado para a cura da leucemia, precisa de uma pessoa saudável que seja um doador de medula, então é feita a retirada da medula do doador e transplantada no pessoa que tem leucemia. É muito difícil encontrar uma medula compatível para a realização do transplante.

Espero ter esclarecido algumas dúvidas sobre a doença que acomete alguns alunos que frequentam nossas escolas regulares.

Viviane Pereira Maito - Professora do Programa de Escolarização do Hospital de Clínicas de Curitiba - Ambulatório Hemato-Onco-Pediatria.

A Expansão da Pedagogia Hospitalar.

A Pedagogia Hospitalar vem se expandindo no atendimento a criança hospitalizada.
A visão humanística que muitos dos hospitais do Brasil procuram enfatizar na sua prática, vem demonstrando que não é só o corpo que deve ser "olhado", mas o ser integral, suas necessidades físicas, psíquicas e sociais. O pedagogo, ao promover experiências vivenciais dentro de um hospital - brincar, pensar, criar, trocar - estará favorecendo seu desenvolvimento, que não deve ser interrompido em função de uma hospitalização.

No Hospital Infantil Joana de Gusmão, a atuação deste profissional iniciou na década de 70 com a implantação do Programa de Recuperação Neuropsicomotora de Crianças Severamente Desnutridas, onde a equipe multiprofissional assistia a criança em suas especificidades afetivas, cognitivas e sociais.
Atualmente, as ações da equipe pedagógica vêm sendo desenvolvidas através de programas educacionais, realizados por pedagogas, professoras, recreadoras e estagiários.

Os programas são:

- Ambulatório - triagem - diagnóstico, orientação e acompanhamento escolar para crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e com dificuldades na aprendizagem;
- Atendimento Pedagógico em Equipe Multidisciplinar - atendimento nas unidades viabilizando a interação entre equipe multidisciplinar do hospital e o processo escolar;
- Classe Hospitalar - continuidade da escolaridade formal, mantendo a sistematização da aprendizagem, promovendo o desenvolvimento e contribuindo para a reintegração à escola após alta hospitalar;
- Recreação - oportuniza o brincar como proposta terapêutica, possibilitando através do brinquedo e brincadeiras, reelaborar as manifestações de alegria e do lazer, resgatando a vitalidade e autoconfiança;
- Estimulação essencial - para crianças de 0 a 6 anos com atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor.

FORMAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA EM CLASSES HOSPITALARES: RESPEITANDO A CIDADANIA DE CRIANÇAS E JOVENS ENFERMOS




A criação de classes escolares em hospitais é resultado do reconhecimento formal de que crianças hospitalizadas, independentemente do período de permanência na instituição ou de outro fator qualquer, têm necessidades educativas e direitos de cidadania, onde se inclui a escolarização.

Esse não é fenômeno recente. Fonseca e Ceccim (1999) abordam o assunto e esclarecem que, a partir da segunda metade do século XX, observou-se que, em países desenvolvidos, como Inglaterra e Estados Unidos, orfanatos, asilos e instituições que prestavam assistência a crianças violavam aspectos básicos do desenvolvimento emocional das mesmas, por falta de atendimento integral. Concluiu-se igualmente que tais lacunas apresentavam o risco de seqüelas as quais, na vida adulta, poderiam evoluir para condições psiquiátricas sérias.

Decorreu daí a iniciativa de implementar experiências educativas para crianças e jovens internados em instituições hospitalares. Com o transcorrer do tempo, a providência foi também incorporada a hospitais brasileiros, com idêntico objetivo.

A despeito da justiça social dessa iniciativa, verificamos que, em nosso país, a escolarização de crianças e adolescentes hospitalizados não tem merecido atenção suficiente, por parte do poder público, seja em nível municipal, estadual ou federal. Na verdade, a ampliação dessa modalidade de educação ainda é incipiente em nosso país.

No âmbito das organizações da sociedade civil, temos algumas indicações da preocupação com o respeito aos direitos dessas crianças e adolescentes. O Departamento de Defesa dos Direitos da Criança, da Sociedade Brasileira de Pediatria, através dos participantes na 27a Assembléia Ordinária do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), ocorrida em Brasília, em 17 de outubro de 1995, elaborou um documento, aprovado por unanimidade e transformado em Resolução no 41. Entre os 20 itens que se referem aos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados encontra-se o de no 9, o qual preconiza: Direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programa de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência hospitalar.

A legislação brasileira reconhece o direito de crianças e adolescentes hospitalizados ao atendimento pedagógico-educacional. A esse respeito, merece destaque a formulação da Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994 e 1995). Essa propõe que a educação em hospital seja realizada através da organização de classes hospitalares, devendo-se assegurar oferta educacional não só aos pequenos pacientes com transtornos do desenvolvimento, mas, também, às crianças e adolescentes em situações de risco, como é o caso da internação hospitalar (Fonseca,1999).

As providências mencionadas são muito importantes, especialmente se considerarmos que, apesar de acometida por uma enfermidade, a criança hospitalizada tem interesses, desejos, sonhos e direitos de cidadania, como qualquer outra pessoa de sua idade.

Dados do I Encontro Nacional sobre Atendimento Pedagógico-Hospitalar realizado no Rio de Janeiro em julho de 2000, indicam que no Brasil existem 67 classes hospitalares em funcionamento e o município do Rio de Janeiro contava com 11 dessas instituições em atividade e 17 professores atuando, destacando-se, entre essas, a classe hospitalar mais antiga ainda em funcionamento no Hospital Municipal Jesus (hospital público infantil), que iniciou oficialmente suas atividades em 14 de agosto de 1950.

Essas onze classes hospitalares em atividade no Rio de Janeiro são vinculadas à Secretaria Municipal de Educação e contam com professoras concursadas pelo município. Elas constituem uma extensão da escola no hospital, isto é, seguem o mesmo conteúdo didático sugerido pelo município, atendendo crianças e jovens desde a Educação Infantil até a quarta série do primeiro segmento do ensino fundamental. Devido às condições de saúde e peculiaridades do alunado atendido, desenvolvem percursos individualizados, a partir de temas emanados do multieducação – núcleo curricular básico do município.

Essas instituições podem ser consideradas como espaços não-formais de educação, uma vez que, como definido por Fávero (1980), a educação não-formal abrange qualquer tentativa educacional organizada e sistemática que se realiza fora dos quadros do sistema formal (de ensino), para fornecer determinados tipos selecionados de aprendizagem (p.23).

Gohn (1999 ) acrescenta que a educação não-formal designa um processo com quatro campos de dimensões, entre eles, um que abarca aprendizagem dos conteúdos da escolarização formal, escolar, em espaços diferenciados (pp. 98,99) – o que inclui a classe hospitalar. Segundo a autora, no espaço de educação não-formal existe a preocupação de se transmitir os mesmos conteúdos da escola formal, entretanto esse repasse é desenvolvido em espaços alternativos e com metodologias e seqüências cronológicas diferenciadas (p.102).

Em pesquisa realizada em quatro classes hospitalares do município do Rio de Janeiro com nove professoras participantes (Amaral, 2001), os resultados indicam que, do ponto de vista da formação acadêmica, predominou a formação universitária, havendo significativa presença de pós-graduadas. Entre as docentes, ficou claro o desejo de acesso a uma formação mais consistente com as demandas do trabalho nesses ambientes, de preferência no nível de especialização. Compreender e respeitar essa reivindicação implica a consciência de que, para atender à clientela de alunos hospitalizados, são necessários conhecimentos sobre a rotina hospitalar, medicamentos, diferentes tipos de enfermidades, dentre outros aspectos que não constituem práticas usuais de uma professora de escola regular e nem fazem parte do currículo da formação para o magistério, habitualmente. A ampliação das oportunidades de aperfeiçoamento profissional poderá preencher lacunas que a formação inicial docente deixou em aberto.

Não se pode desconsiderar, conforme registro das entrevistadas, que pouco se divulga sobre classes hospitalares no contexto universitário e, durante a graduação, não se tem informação sobre essa alternativa de prática docente. Nessa linha de pensamento, a possibilidade de continuar estudando após a graduação (em um curso voltado para a área pedagógico-hospitalar) só teria a acrescentar elementos qualitativos à sua prática cotidiana. Para reforçar essa proposta, recorremos às palavras das próprias participantes:

“A gente está sempre em busca de conhecimento que venha a somar para o nosso trabalho. A graduação deixa muito a desejar em relação à Educação Especial. A gente nem ouve falar em classe hospitalar”. Professora E.

“Um curso de especialização voltado para essa temática, a classe hospitalar, seria o ideal”. Professora C.

Dessa maneira seria possível viabilizar a difusão de experiências bem sucedidas, a busca cooperativa de solução para problemas do cotidiano, além de contribuir para aprofundar o conhecimento sistemático das peculiaridades que permeiam a assistência multidisciplinar ou interdisciplinar a ser prestada às criança ou adolescentes enfermos.

Por outro lado, como referimos, caberia preencher lacunas em termos de conhecimento científico sobre diferentes tipos de doenças, procedimentos apropriados a cada grupo de clientes, buscando-se sempre a contribuição integrada de enfoques como os da Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise, do Serviço Social, da Didática e da Pedagogia, de especialistas em ludoterapia, entre tantas outras áreas de fundamental importância para o trabalho dos professores em classes hospitalares.

Outra proposta que poderia ser atendida pela formação no nível de especialização em classes hospitalares, ou do trabalho de planejamento cooperativo em serviço, seria o preparo para a elaboração de um projeto político-pedagógico coerente com as necessidades e peculiaridades dessa clientela. Como em outras situações análogas, é evidente que um trabalho de qualidade não pode ficar à mercê do ensaio e erro ou restrito à boa vontade e capacidade de solidariedade e dedicação dos profissionais, por mais que esses aspectos sejam importantes.

Nessa perspectiva, as próprias universidades, no exercício da função de extensão universitária, poderiam promover experiências de apoio às instituições, na formulação, acompanhamento e avaliação da implementação de projetos político-pedagógicos apropriados aos objetivos e funções das classes hospitalares.

Também se fazem necessários estudos que subsidiem a formulação de diretrizes curriculares e metodologias de ensino-aprendizagem, a serem desenvolvidas junto às crianças e adolescentes que se encontram em situação particularmente desafiadora e que precisam ter garantidos seus direitos de cidadania.

A esse respeito, os resultados da pesquisa indicam que as professoras desenvolvem importantes iniciativas no sentido de adequar o currículo às demandas e necessidades do seu alunado. Porém, precisam de suporte pedagógico, diante da necessidade de pôr em ação um currículo que atenda às crianças e jovens com diferentes tipos de problemas de saúde e que, por isso, têm permanência curta, média ou de longa duração nas instituições hospitalares.

A prática pedagógica nesse espaço exige dos profissionais envolvidos maior flexibilidade, por tratar-se de uma clientela que se encontra em constante modificação, tanto em relação ao número de crianças que irão ser atendidas pelas professoras bem como no que diz respeito ao tempo que cada uma delas permanecerá internada e ainda o fato de serem crianças e jovens com diferentes patologias, requisitando diferentes intervenções. Logo, a atuação na classe hospitalar requer compreensão para a peculiaridade de que, mais do que em outras instituições, não existe uma receita pronta, um planejamento perfeito, uma cartilha de respostas a ser seguida, mas sim um desafio de se traçar, a partir de temas geradores, percursos individualizados.

As professoras recorrem, sempre que possível, à ajuda de acompanhantes das crianças, os quais precisam ser preparados para manifestar atitude positiva e de confiança na recuperação da saúde e/ou na adaptação às limitações presentes, garantindo a qualidade de vida. Não há dúvida da importância da parceria entre docentes e familiares, os quais desempenham relevante papel, como elemento de apoio e cooperação na preservação do equilíbrio possível entre os pequenos pacientes.

No que diz respeito aos profissionais de saúde envolvidos nesse processo, ainda existem algumas dificuldades a serem ultrapassadas, como o intercâmbio de informações acerca das patologias das crianças e jovens, a socialização do que está escrito nos prontuários ou ainda as recomendações a serem seguidas, de acordo com a enfermidade de cada paciente.

Acreditamos que tais dificuldades, teoricamente, seriam facilmente transponíveis e que poderão ser discutidas em seminários, reuniões ou mesmo simples encontros desses profissionais, que num diálogo franco e no trabalho cooperativo, poderiam avançar e apoiar-se mutuamente.

Além disso, os dados da pesquisa são eloqüentes no sentido de esclarecer que as professoras têm plena consciência de seu papel transformador nessa difícil realidade e acreditam na afirmação da saúde e da vida das crianças e jovens hospitalizados.

Para concluir, vale assinalar que nossa permanência no campo e o conseqüente envolvimento com as nove professoras e alunos das classes hospitalares dos quatro hospitais proporcionaram muita reflexão e esperança, além de convicções sobre o potencial do trabalho pedagógico junto aos espaços não convencionais, como é o caso das classes hospitalares. Ao mesmo tempo, pudemos inferir o quanto os cursos de graduação em Educação têm ficado à margem dessas alternativas...

Diante disso, são explicáveis as lacunas que afligem as professoras e outros profissionais que desenvolvem atividades técnico-pedagógicas e administrativas nesses espaços. Nessa linha de pensamento, a literatura analisada ao longo da pesquisa é categórica quanto à sua caracterização como eminentemente pedagógica. Decorre daí a premência de evitar o desenvolvimento de propostas meramente recreativas ou assistencialistas, sob o rótulo de classes hospitalares.

Da mesma forma, cumpre salientar a urgência de ampliação da proposta das classes hospitalares a todas as instituições, para garantir a cobertura universal de crianças e adolescentes hospitalizados, de acordo com suas condições e possibilidades. Nossos resultados não deixam dúvidas quanto à importância desse trabalho e os benefícios que ele traz não só para as crianças e jovens hospitalizados, mas para as famílias, para o corpo médico e para as professoras atuantes.

Inferimos igualmente, a partir de nossas observações, que as professoras entrevistadas têm enorme amor pelo que fazem, sem contudo perderem de vista a dimensão profissional. Por isso, buscam compartilhar com seus alunos a construção de conhecimentos, orientada para o exercício da cidadania. Sob esse ponto de vista, exercem o que chamamos de pedagogia do resgate: o resgate da saúde, a celebração da vida.

Lembramos ainda que as universidades que mantêm hospitais universitários para atendimento da população e prática hospitalar de seus alunos da área da saúde, poderiam incluir um projeto pedagógico-hospitalar, que teria potencial de prática dos acadêmicos da área da Educação e áreas como a psicologia, fonoaudiologia, enfermagem, serviço social, entre outras. Além da ampliação da abrangência da formação de futuros educadores universitários, essa providência seria muito relevante para as crianças e jovens hospitalizados. Além disso, constituiria enorme contribuição das universidades, no cumprimento de sua função social, respondendo a elevadas demandas da comunidade, promovendo um novo campo de atuação para o exercício da cidadania.
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Daniela Patti do Amaral - (Mestra em Educação pela Universidade Estácio de Sá - Brasil)

Dr.ª Maria Teresinha Pereira e Silva - (Professora do Mestrado em Educação e Direito da Universidade Estácio de Sá - Brasil)


BIBLIOGRAFIA

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BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília, MEC/SEESP, 1994, 66p.

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CLASSE HOSPITALAR: atendimento pedagógico-educacional para crianças e jovens hospitalizados. Apresenta dados, informações e bibliografia sobre o atendimento de crianças e jovens hospitalizados, 1997-2001, Disponível em . Acesso em: 21 ago. 1999.

FÁVERO, O. Tipologia da educação extra-escolar. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, Instituto de Estudos Avançados em Educação, 1980.

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GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo: Cortez, 1999. (coleção questões da nossa época, v.71).