quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Na hora difícil do hospital, a escolinha faz esquecer a dor.




Com 20 classes na Capital e 13 no Interior, as classes hospitalares asseguram atendimento educacional ao aluno internado

Um período prolongado de internação em hospital não precisa ser uma ameaça de perder o ano letivo para crianças e adolescentes matriculados na Educação Básica. Mantendo 33 classes hospitalares, sendo 20 na Capital e 13 em cidades do Interior, a Secretaria de Estado da Educação assegura o atendimento educacional em sete hospitais da rede pública de São Paulo e em mais sete no Interior, com base na Lei Estadual 10685, de 30 de novembro de 2000.

O gesso que imobiliza, a recuperação da cirurgia e até os casos mais sérios de pacientes que precisam de quimioterapia são algumas das situações comuns nessas classes, chamadas pelos alunos de escolinha. O atendimento é dado por professoras vinculadas a uma escola estadual. Os pacientes que podem se levantar recebem os professores na enfermaria.

Embora a lei seja do ano 2000, as classes hospitalares funcionam há muito mais tempo em São Paulo, com uma estimativa de que existam desde a década de 1930, segundo dados do Cape – Centro de Apoio Pedagógico Especializado, que oferece suporte ao processo de inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais na rede estadual de ensino. Para essas classes existirem, elas precisam se vincular a uma escola pública para que o professor seja designado, depois de uma avaliação que considera sua habilidade para lidar com esse público especial.

Em São Paulo, as classes hospitalares funcionam nos seguintes hospitais:

Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – são quatro classes, vinculadas à Escola Estadual Arthur Guimarães;

Hospital Darcy Vargas – oito classes vinculadas à Escola Estadual Adolfo Trípoli;

Hospital do Servidor Público Estadual – duas classes ligadas à Escola Estadual César Martinez;

Hospital de Clínicas de São Paulo – (com duas classes) e Hospital Emílio Ribas (com três classes), que mantêm vínculo com a Escola Estadual Vítor Oliva;

Hospital AC Camargo – duas classes da Escola Estadual Presidente Roosevelt;

Hospital Cândido Fontoura – uma classe pertencente à Escola Estadual Antônio Queiroz Telles.

Nas cidades do Interior

Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto – As primeiras duas classes foram criadas em 1997, vinculadas à Escola Estadual Dr. Aymar Baptista Prado, ampliando mais uma em 2002, até chegar à quarta classe, em agosto de 2005. São quatro professoras habilitadas em Educação Especial atendendo crianças nos leitos das enfermarias, quando estão impedidas de se locomover, ou nas três salas destinadas pelo hospital, que contam com recursos pedagógicos diversos.

Os pacientes, na faixa etária de 06 a 14 anos, são alunos do Ensino Fundamental e vêm de toda parte do Brasil, mas são atendidos também alunos com idade inferior ao estabelecido ou aqueles matriculados no Ensino Médio. No caso de internação de uma criança não matriculada, a matrícula é feita imediatamente pela escola vinculadora. Ao receberem alta, as crianças levam consigo um relatório referente ao seu rendimento, para ser apresentado à escola de origem.

As quatro professoras da EE Aymar Baptista Prado – Maria Aparecida Fava Magalini, Sandra Helena Vicente de Carvalho, Rejane Campos e Gisele Gomes Negrão Brancalion – atendem hoje cerca de 89 alunos, segundo informa a diretora Neide Lorençato Medeiros. Um dado que confirma o bom trabalho realizado pelo Projeto Classe Hospitalar é a sua classificação no Programa Gestão Pública e Cidadania 2003, das Fundações Ford e Getúlio Vargas, pelo qual recebeu o prêmio de R$ 6 mil. O mesmo projeto foi selecionado, entre outros 700 do mundo inteiro, como Iniciativa de Boa Prática (Good Practice) pela agência Un-Habitat, da Organização das Nações Unidas.

Hospital Amaral Carvalho – A primeira classe hospitalar vinculada à Escola Estadual Prof. Dr. Benedicto Montenegro, na cidade de Jaú, foi criada em 2003. A crescente demanda de crianças em tratamento oncológico, tanto internadas quanto ambulatoriais, levou à instalação de mais uma classe em 2005. Hoje, são cerca de 40 pacientes-alunos, com idades variando entre 7 e 14 anos, vindos de várias cidades do Estado de São Paulo e também de outras regiões, como Minas Gerais, Amazonas, Santa Catarina e Ceará.

As professoras Lúcia Helena Ormelese de Barros e Ana Cláudia Volpato contam com o apoio da equipe médica, que as mantém informadas sobre o período de afastamento da criança. Isso facilita um planejamento educacional adequado quanto aos conteúdos curriculares e avaliações que serão feitas durante esse tempo, para que a criança não perca o ano letivo.

Centro de Atenção Integral à Saúde (CAIS) Clemente Ferreira – Desde fevereiro de 2004, cerca de 60 crianças e adolescentes da cidade de Lins, portadoras de deficiência mental, são atendidos no CAIS Clemente Ferreira, que mantém duas classes vinculadas à Escola Estadual João Pedro de Carvalho Neto, orientadas pelas professoras Neide Francisca Chagas Granjeiro e Fátima Campaner dos Santos Oliveira.

Com características próprias, essas classes atendem a uma clientela específica, de zero a 17 anos, com pacientes do Estado de São Paulo e que, devido ao quadro que apresentam, residem no hospital.

Hospital de Clínicas – Unesp de Botucatu – Todas as crianças internadas na enfermaria da Pediatria da Unesp, com idade entre 7 e 14 anos, são atendidas na classe instalada em setembro de 2005. Quer estejam no leito ou no isolamento, a professora Neudeni Sanine Alves, da Escola Estadual Prof. Américo Virgínio dos Santos, trabalha o calendário escolar segundo o que está sendo dado em sala de aula na escola a que pertencem os alunos.

Diariamente, são atendidas cerca de 12 crianças, que podem ter menos de 7 anos e até 16 anos (idade máxima para internação na Pediatria).

Os pacientes contam com uma sala equipada, livros didáticos de todas as séries e livros de leitura. Essa preocupação em dar o melhor atendimento tem trazido resultados muito positivos, como relata a professora Neudeni. “Um aluno da cidade de Itaí, que passou por um transplante de rim é um caso interessante: ao voltar para a escola de origem, a sua professora disse que ele estava aprovado e com a matéria assimilada”.

Fundação Pio XII – Hospital do Câncer de Barretos – Cerca de 280 crianças, com idades que variam até 25 anos, passam pela classe hospitalar da Fundação Pio XII, vinculada à Escola Estadual Benedito Pereira Cardoso, na cidade de Barretos. Aberta em maio deste ano, a classe é formada por pacientes da Pediatria Oncológica, que desenvolvem atividades de informática, artes plásticas e artesanato (fuxico, decoupage, cartões de Natal), além de outras complementares, utilizando vídeos e DVDs. As professoras Maria Júlia da Costa Valle e Lílian Cristina Calixto fazem também um trabalho de envolvimento com as mães dos alunos, orientando nos trabalhos de artesanato e leitura.

Hospital Materno Infantil de Marília – Vinculada à Escola Estadual Profa. Carlota de Negreiros Rocha, a classe hospitalar que funciona no Materno Infantil de Marília desde o ano passado (durante anos a classe estava dentro do Hospital de Clínicas da cidade) atende de 15 a 25 alunos diariamente, com idades variando entre três e 14 anos, internados para tratamento por período prolongado ou não. Além de dar continuidade (ou início) aos estudos regulares, estar na escolinha ajuda a diminuir os traumas psicológicos decorrentes da internação e dos tratamentos a que são submetidos.

Mesmo não comparecendo às aulas nas suas escolas de origem, as crianças internadas têm atividades pedagógicas de acordo com o que elas já vinham aprendendo. A professora Ana Helena Zanco trabalha com diversas disciplinas e também com atividades de recreação e integração, usando inclusive o computador, instalado na sala onde funciona a classe hospitalar. Entre os projetos colocados em prática estão o da biblioteca móvel, o de humanização e o de datas comemorativas, que inclui até a Semana da Criança Dodói.

Vera Souza Dantas

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